Amigos de Jó

A expressão "paciência de Jó" é amplamente empregada para falar de uma paciência duradoura ou longa, mas ao ler o livro de Jó novamente, o que me salta aos olhos é a forma como seus amigos se comportam diante do seu sofrimento.

A princípio os amigos de Jó compartilham de sua dor, lamentam junto com ele e choram, quando Jó amaldiçoa o dia de seu nascimento e traz alguns questionamentos, fruto da sua profunda dor, seus amigos se levantam para falar palavras “de conforto”, porém quando um amigo está em sofrimento ele não precisa ser lembrado dos seus dias de alegria, nem de que Deus continua a sustentá-lo e ampará-lo mesmo em meio a dor, provavelmente ele sabe disso e não necessariamente isso traz alivio para sua alma.

Para consolar alguém não precisamos de palavras, por vezes seu amigo quer apenas ser ouvido, ouvir um "eu compreendo a sua dor", "vou orar por você", "você quer sair pra fazer alguma coisa?", "você quer vir aqui em casa?" e não um "vai ficar tudo bem", "Deus está no controle de tudo", "você precisa se acalmar" (essa aqui é uma das piores, quem disse que quem está em sofrimento e está nervoso para precisar se acalmar?).

Seu amigo precisa de um abraço, alguém que console suas lagrímas, companhia para dar um passeio, assistir um filme, ou alguém para conversar um outro assunto que não seja aquele que lhe provoca dor, a não ser que seu amigo queira realmente conversar sobre isso.

Observe as palavras de Jó:

"Se tão somente pudessem pesar a minha aflição e por na balança a minha desgraça" Jó 6:2

"Vocês pretendem corrigir o que eu digo e tratar como vento as palavras de um homem desesperado?" Jó 6:26

"Por isso não me calo, na aflição do meu espirito desabafarei, na amargura da minha alma farei as minhas queixas." Jó 7:11

É nitido que Jó está em grande sofrimento, anteriormente ele havia amaldiçoado o dia de seu nascimento, Jó carregava um dor tão grande que desejou nunca ter nascido, isso te lembra algo?

Se você, em algum momento da sua vida, enfrentou a depressão e seus sintomas, sabe do que Jó falava, sabe que essa dor é tamanha que vemos a morte como forma de alivio.

Você acha que diante dessa dor alguém precisa ouvir coisas do tipo:

"Pense bem! Você ensinou a tantos; fortaleceu mãos fracas. Suas palavras davam firmeza aos que tropeçavam; você fortaleceu joelhos vacilantes. Mas agora que se vê em dificuldade , você desanima; quando você é atingido fica prostrado." Jó 4:4-5

Não precisa, não precisa ser lembrado que um dia "foi referência", na verdade não precisa ser lembrado de nada, a pessoa precisa na verdade se sentir amado, acolhido e cuidado.

Além disso, essa fala de Eliabe demonstra o quanto ele via Jó apenas pelas suas obras e não por quem ele era de verdade. Amigos amam uns aos outros além daquilo que eles podem lhe proporcionar.

Precisamos entender a sutil diferença entre empatia e compaixão, para não nos comportarmos como os amigos de Jó diante da dor dos nossos amigos, na verdade, diante da dor de qualquer pessoa.

A empatia é a identificação ou compressão da dor do outro, já a compaixão vai além, a compaixão é o DESEJO GENUINO em ALIVIAR ou DIMINUIR a dor do outro.

Se formos apenas empáticos, tentaremos trazer soluções e inúmeros conselhos as pessoas, ao invés de estendermos a mão, darmos um abraço, fazer uma oração, jogar conversa fora, ou até mesmo ser o socorro (material) no meio dessa dor.

Algumas vezes, quando amigos me procuram para desabafar sobre suas dores, eu digo: "Olha eu não consigo resolver seu problema, mas se você quiser podemos sair, ou você pode passar uns dias aqui em casa."

Precisamos entender que nem tudo se resolve com coisas materiais, nem tudo é solucionado com dinheiro, muitas vezes a solução é se sentar em silêncio ao lado do seu amigo, é emprestar o ouvido, é fazer piada sem graça.

Que aprendamos a ter mais compaixão pelas pessoas, por suas dores e que sejamos menos solucionadores, afinal, amizade não é trabalho, onde você é medido pela sua performace e sua capacidade de resolução de problemas.

Deus abençoe,

Joycemille Rocha